As 15 maiores músicas da Tropicália

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A Tropicália foi um movimento cultural que surgiu no final dos anos 60 no Brasil e teve uma grande influência na música, arte e cultura brasileira. Ele foi caracterizado pela mistura de elementos da cultura popular brasileira, como o samba e a bossa nova, com influências internacionais, como o rock, o jazz e a música experimental. Esse movimento, que se espalhou por todo o país, foi liderado por artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes e Gal Costa, entre outros.

Dentre as inúmeras canções que surgiram nesse movimento, algumas se destacam por sua importância e popularidade. “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso, por exemplo, é considerada um hino da Tropicália, com sua letra de crítica social e musicalidade inovadora. Já “Divino Maravilhoso”, uma parceria entre Caetano e Gilberto Gil, aborda temas como a busca pela liberdade e a valorização da cultura popular brasileira.

Essas canções, e outras tantas da Tropicália, contribuíram para a transformação da música brasileira e influenciaram artistas de várias gerações posteriores. A Tropicália também teve um impacto significativo na cultura brasileira como um todo, ampliando os limites da liberdade de expressão, mesmo sob a repressão da ditadura militar, e introduzindo novos conceitos estéticos na arte e na música brasileiras. Recorde-se das músicas mais populares deste importante movimento cultural brasileiro.

1- Alegria, Alegria (Caetano Veloso)

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vouEm caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?

“Alegria, Alegria”, também, conhecida como “sem lenço e sem documento”, é uma música composta por Caetano Veloso em 1967, e foi um grande sucesso na época, se tornando um dos marcos da Tropicália. A letra da canção é uma crítica à sociedade brasileira e seus valores, que estavam em plena ditadura militar.

A música começa com a frase “Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento”, que se tornou emblemática do movimento. A letra aborda temas como a censura, a violência do governo militar e a cultura de massa.

“Alegria, Alegria” é um hino da Tropicália, e uma das canções mais importantes da carreira de Caetano Veloso. A música tem uma sonoridade experimental e mistura elementos de rock, pop e música brasileira, com a guitarra elétrica e o violão como instrumentos principais. A letra é uma reflexão sobre a situação do Brasil na época, e a busca por novas formas de expressão e liberdade.

2- Panis et circenses (Caetano Veloso e Gilberto Gil cantada por Os Mutantes)

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

A música “Panis et circenses”, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, foi interpretada pelo grupo Os Mutantes, que é considerado o intérprete mais conhecido da música. A faixa foi lançada em 1968 como parte do álbum “Tropicália ou Panis et Circenses”.

A letra de “Panis et Circenses” é uma crítica à sociedade brasileira da época em que foi escrita, que vivia sob uma ditadura militar. A letra faz referência à expressão latina “panem et circenses”, que significa “pão e circo”, que era usada pelos romanos para descrever a política de distribuição de alimentos e entretenimento para o povo, como forma de manter o controle social.

A canção começa com uma tentativa do eu lírico de cantar sua canção “iluminada de sol”, simbolizando a busca pela liberdade e pela expressão artística livre, que foi posta em cheque pela repressão da ditadura militar. No entanto, a letra indica que as pessoas da “sala de jantar”, ou seja, as classes privilegiadas da sociedade, estão ocupadas demais em suas vidas cotidianas para se preocuparem com essas questões.

A letra segue com a imagem de soltar tigres e leões nos quintais, representando a libertação dos instintos e emoções, mas novamente a atenção se volta para as pessoas da sala de jantar, que estão preocupadas em “nascer e morrer”. O eu lírico mata seu amor com um punhal de aço luminoso, simbolizando a destruição do amor e da liberdade em meio à repressão.

A música, com sua mistura de elementos da cultura popular e erudita, é uma das mais emblemáticas do movimento tropicalista e mostra a habilidade de Caetano Veloso e Gilberto Gil em combinar a poesia com a música popular.

3- Tropicália – Caetano Veloso e Gilberto Gil

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval

Eu inauguro o monumento no planalto central
Do país
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
Viva a bossa-sa-sa
Viva a palhoça-ça-ça-ça-ça
O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata

A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada de uma rua antiga, estreita e torta

A música “Tropicália” é uma das canções mais icônicas do movimento homônimo que surgiu no Brasil nos anos 60. A letra da música é uma mistura de crítica social e celebração da cultura brasileira, características marcantes do movimento tropicalista.

Além disso, “Tropicália” também é uma crítica à censura e opressão da ditadura militar, que governava o Brasil na época. A música foi lançada em 1968, durante um período de intensa repressão política, A música começa com uma descrição da paisagem urbana do Brasil, tensa, e de conflito da época da ditadura militar (Sobre a cabeça os aviões, sob os meus pés os caminhões).

O narrador também mostra o papel de influência política e cultural do artista (Eu organizo o movimento [de resistência à ditadura], Eu oriento o carnaval. A música também celebra a Bahia e a cultura nordestina, com a piscina com água azul de Amaralina e a roseira no pulso do narrador, autenticando eterna primavera.

Em resumo, a música “Tropicália” é uma celebração da diversidade cultural brasileira e uma crítica à opressão política e à visão limitada do nacionalismo. É uma das obras mais emblemáticas do movimento tropicalista, que teve uma grande influência na música e na cultura brasileira, bem como na sociedade e na política do país.

4- Aquele Abraço de Gilberto Gil

O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e marçoAlô, alô, Realengo
Aquele abraço
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraçoAlô, alô, Realengo
Aquele abraço
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraçoChacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro

“Aquele Abraço” é uma música de Gilberto Gil que se tornou um hino não oficial do Rio de Janeiro. A letra celebra a cidade, sua cultura e seu povo, e faz referência a figuras emblemáticas da cultura popular brasileira. A canção começa com a afirmação de que o Rio de Janeiro continua lindo e sendo uma das cidades mais belas e vibrantes do mundo. A repetição da frase “Aquele abraço” ao longo da música cria um clima de camaradagem e união entre o cantor e seu público.

A letra faz menção a lugares e pessoas específicas do Rio de Janeiro, como Realengo, a torcida do Flamengo, Chacrinha, Terezinha, a moça da favela, a Portela e a Banda de Ipanema. Essas referências tornam a música ainda mais identificável para os cariocas e para quem conhece a cultura popular brasileira. O uso de expressões como “velho guerreiro” e “velho palhaço” para se referir a Chacrinha, por exemplo, mostra o respeito e a admiração que o cantor tem pelo apresentador de televisão.

A letra também faz referência à Bahia, terra natal de Gilberto Gil, e à influência que a cultura baiana teve em sua vida e em sua música: “A Bahia já me deu régua e compasso”. A letra encerra com uma mensagem de autodeterminação e de respeito à própria identidade: “Quem sabe de mim sou eu / Aquele abraço / Pra você que me esqueceu”.

Em resumo, “Aquele Abraço” é uma celebração da cultura popular brasileira e do Rio de Janeiro. A letra é marcada por referências específicas que tornam a música ainda mais identificável para o público carioca e brasileiro, e a mensagem final de autodeterminação e respeito à própria identidade é uma das marcas do movimento tropicalista, do qual Gilberto Gil foi um dos principais expoentes.

5- Miserere Nobis – Gilberto Gil

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Já não somos como na chegada
Calados e magros, esperando o jantar
Na borda do prato se limita a janta
As espinhas do peixe de volta pro mar
As espinhas do peixe de volta pro mar

Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

Tomara que um dia de um dia seja
Para todos e sempre a mesma cerveja
Tomara que um dia de um dia não
Para todos e sempre metade do pão

“Miserere Nobis” é uma música do músico brasileiro Gilberto Gil e da banda Os Mutantes, e suas letras são escritas em português. O título em si é uma frase em latim que significa “tenha misericórdia de nós”. A música fala sobre as lutas e injustiças enfrentadas pelos pobres na sociedade brasileira e suas esperanças e sonhos por um futuro melhor.

O primeiro verso da música fala sobre como as coisas mudaram para os pobres desde a sua chegada e como eles já não esperam passivamente pelo jantar, mas agora são mais assertivos e vocais sobre suas necessidades. A metáfora dos ossos de peixe sendo devolvidos ao mar simboliza o desperdício e a falta de consideração pelos pobres, que muitas vezes recebem as sobras da sociedade.

O segundo verso expressa a esperança de que um dia todos tenham as mesmas oportunidades e recursos e que necessidades básicas como pão e uma toalha de mesa decente estejam disponíveis para todos.

A música usa imagens vívidas para pintar uma imagem de uma reunião familiar, com vinho sendo derramado na toalha de mesa e manchas reminiscentes de sangue. Isso sugere que a luta pela igualdade e justiça pode ter um custo e que o progresso pode ser lento e doloroso.

Bê, rê, a, Bra
Zê, i, lê, zil
Fê, u, fu
Zê, i, lê, zil
Cê, a, ca
Nê, agá, a, o, til, ão

Ora pro nobis
Ora pro nobis

Ora pro nobis
Ah ah, ah ah
Miserere-re nobis
Ora, ora pro nobis
É no sempre será, ô, iaiá
É no sempre, sempre serão

A seção final da música apresenta um cântico lúdico e sem sentido que parece ser tanto uma celebração da cultura brasileira quanto um lembrete das dificuldades enfrentadas pelos pobres. O refrão repetido de “Ora pro nobis” é um apelo por misericórdia e um lembrete de que a mudança é necessária. Em geral, “Miserere Nobis” é uma música poderosa e comovente que captura o espírito do povo brasileiro e suas lutas por um futuro melhor.

6- Divino Maravilhoso (Caetano Veloso e Gal Costa)

Atenção ao dobrar uma esquina
Uma alegria, atenção menina
Você vem? Quantos anos você tem?
Atenção, precisa ter olhos firmes
Pra este Sol, para esta escuridão

Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão

É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte

“Divino Maravilhoso” é uma música composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, lançada em 1968 no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses”. A primeira grande intérprete da música “Divino Maravilhoso” foi a cantora Gal Costa, que a apresentou no Festival Internacional da Canção de 1968. A canção se tornou um dos maiores clássicos da Tropicália e da música brasileira em geral, sendo interpretada por diversos artistas ao longo das décadas.

A letra de “Divino Maravilhoso” é uma crítica social e política ao regime militar que governava o Brasil na época, mostrando a opressão e a violência do regime e a necessidade de lutar pela liberdade e pela democracia. A música tem um ritmo dançante, com um arranjo que mistura elementos de rock, samba e música experimental.

Além de sua importância como uma crítica social e política, “Divino Maravilhoso” também é uma obra de arte que representa a mistura de culturas e a diversidade da música brasileira. A música foi composta durante o movimento da Tropicália, que buscava criar uma música moderna e inovadora, incorporando elementos da cultura popular brasileira e da cultura de massa internacional.

A música continua a ser relevante hoje, em um momento em que o país enfrenta novos desafios políticos e sociais, mostrando a importância da arte e da cultura como formas de resistência e luta pela liberdade e pela justiça.

7- Coração Materno (Vicente Celestino)

Disse um campônio a sua amada
Minha idolatrada, diga o que quer
Por ti vou matar, vou roubar
Embora tristezas me causes, mulher
Provar quero eu que te quero
Venero teus olhos, teu porte, teu ser
Mas diga tua ordem, espero
Por ti não importa, matar ou morrer
E ela disse ao compônio, a brincar
Se é verdade tua louca paixão
Partes já e pra mim vá buscar
De tua mãe inteiro o coração
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou
A chorar na estrada tombou
Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar

“Coração Materno” é uma música que se tornou um símbolo do amor maternal na música popular brasileira. A letra, escrita por Vicente Celestino, é uma bela homenagem à figura da mãe, mostrando seu amor incondicional e sua dedicação aos filhos. A canção foi gravada originalmente em 1929 por Vicente Celestino e se tornou um grande sucesso, sendo regravada por diversos artistas ao longo dos anos.

Embora “Coração Materno” não seja uma música do movimento Tropicália, ela exerceu uma grande influência na música popular brasileira e certamente teve impacto na formação dos artistas do movimento. Além disso, é possível notar semelhanças entre a temática da música e algumas das preocupações dos artistas da Tropicália, como a valorização da cultura popular brasileira e a abertura para a experimentação e a mistura de gêneros musicais.

Portanto, embora não seja diretamente relacionada ao movimento Tropicália, “Coração Materno” pode ser considerada uma influência indireta na formação do pensamento e da estética dos artistas que fizeram parte do movimento.

8- Baby (Gal Costa)

Você precisa saber da piscina
Da margarina
Da Carolina
Da gasolina
Você precisa saber de mim

Baby baby
Eu sei que é assim

Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com a gente
Me ver de perto
Ouvir aquela canção do Roberto

Baby baby
Há quanto tempo

Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais

“Baby” é uma música da cantora brasileira Gal Costa, lançada em 1969 no álbum “Gal Costa”. A canção foi composta por Caetano Veloso e faz parte do movimento da Tropicália, que misturava elementos de diversos gêneros musicais, como rock, samba, MPB e música experimental.

A música se tornou um grande sucesso na época, principalmente devido à interpretação marcante de Gal Costa, que utilizou técnicas vocais incomuns e uma sonoridade diferente da música popular brasileira tradicional. A letra fala sobre a relação entre duas mulheres, abordando um tema considerado tabu na época, e foi considerada uma das primeiras músicas brasileiras a tratar da temática LGBT de forma explícita.

“Baby” é um exemplo da importância da Tropicália na música brasileira, que trouxe novas influências e perspectivas para a MPB e inspirou muitos artistas a experimentar e inovar. Além disso, a música teve um impacto cultural significativo ao abordar questões sociais e políticas em um período de repressão e censura no país. Até hoje, “Baby” é considerada uma das maiores canções brasileiras de todos os tempos e uma obra-prima da carreira de Gal Costa e de Caetano Veloso.

9- Geleia Geral (Gilberto Gil)

O poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba-iê-iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba-iê-iê-iê
É a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra onde o sol é mais lindo
E Mangueira onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro

“Geleia Geral” é uma música composta por Torquato Neto e Gilberto Gil, lançada em 1968. A canção é uma mistura de diversos elementos musicais e culturais, representando a busca por uma identidade brasileira mais plural e cosmopolita. A letra, escrita por Torquato Neto, é um poema surrealista que critica a sociedade brasileira da época, marcada pelo conservadorismo e a falta de liberdade.

A música é uma fusão de diferentes estilos musicais, como o rock, a música eletrônica e o baião. Ela começa com uma introdução eletrônica, seguida por um riff de guitarra que se repete durante toda a música. A voz de Gilberto Gil, que interpreta a música, é acompanhada por um coral de vozes femininas, que dão um toque mais delicado à canção.

A letra de “Geleia Geral” é uma mistura de diferentes imagens e metáforas, que fazem referência a diversos aspectos da cultura popular brasileira. Há referências ao candomblé, à capoeira, ao samba, ao futebol, entre outros elementos. A letra é uma crítica ao conservadorismo da sociedade brasileira, que na época estava sob o regime militar, e uma afirmação da liberdade e da diversidade cultural.

10- Parque industrial (Tom Zé)

É somente requentar
E usar
É somente requentar
E usar
Porque é made, made, made
Made, made in Brazil
Porque é made, made, made
Made in Brazil, Brazil

Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação

Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção

Parque Industrial é uma música composta por Tom Zé e lançada em seu álbum Grande Liquidação de 1968, e também presente no Álbum Tropicalia ou Panis et Circencis, do movimento de mesmo nome, do qual o artista fazia parte. A canção é uma crítica à industrialização e à modernização da sociedade brasileira na época, que segundo Tom Zé, estavam ocorrendo de forma desordenada e sem considerar as consequências para as pessoas.

A música tem um ritmo frenético e caótico, que combina elementos de samba, rock e música experimental. A letra é cheia de ironia e sarcasmo, e apresenta uma visão pessimista da industrialização, retratando-a como algo que destrói a natureza e o modo de vida das pessoas, além de criar uma falsa sensação de progresso.

A música também é uma crítica à forma como a cultura popular brasileira estava sendo marginalizada e esquecida naquele momento, em detrimento da cultura estrangeira e dos interesses econômicos das grandes empresas. Tom Zé propõe uma revisão das prioridades e valores da sociedade, valorizando a cultura popular e buscando uma forma mais harmônica e sustentável de desenvolvimento.

11- É Proibido Proibir (Caetano Veloso)

Me dê um beijo, meu amor:
Eles estão nos esperando.
Os automóveis ardem, em chamas.
Derrubar as prateleiras,
As estantes, as estátuas,
As vidraças, louças, livros… Sim.

E eu digo “sim”.
E eu digo não ao “não”.
E eu digo: é proibido proibir.
É proibido proibir.
É proibido proibir.
É proibido proibir.
É proibido proibir.

“É Proibido Proibir” é uma música composta por Caetano Veloso em 1968, durante o auge do movimento Tropicália. A música é um manifesto pela liberdade de expressão e contra a censura e a repressão política do regime militar que governava o Brasil na época.

A letra de “É Proibido Proibir” é uma crítica contundente ao autoritarismo e à intolerância, mostrando a necessidade de lutar pela liberdade e pela democracia. A música tem um ritmo dançante, com um arranjo que mistura elementos de rock, samba e música experimental.

“É Proibido Proibir” tornou-se um hino do movimento Tropicália e um dos clássicos da música brasileira. A canção foi interpretada por diversos artistas ao longo das décadas, e sua mensagem ainda é relevante nos dias de hoje. Durante a ditadura militar, a música se tornou um símbolo de resistência e coragem diante da opressão do regime.

A mistura de estilos musicais em “É Proibido Proibir” foram inovadores para a época, e ajudaram a consolidar a Tropicália como um movimento revolucionário e vanguardista na música brasileira. A canção é uma das mais conhecidas e celebradas do repertório de Caetano Veloso, e continua sendo uma referência importante para a luta contra a censura e a repressão política em todo o mundo.

12- Lindonéia (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Na frente do espelho
Sem que ninguém a visse
Miss
Linda, feia
Lindonéia desaparecida

Despedaçados
Atropelados
Cachorros mortos nas ruas
Policiais vigiando
O sol batendo nas frutas
Sangrando
Oh, meu amor
A solidão vai me matar de dor

Lindonéia, cor parda
Fruta na feira
Lindonéia solteira
Lindonéia, domingo
Segunda-feira

“Lindonéia” é uma música composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, lançada em 1969 no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses”. A música é uma homenagem à figura da empregada doméstica, que na época era uma das profissões mais comuns e importantes no Brasil.

A letra de “Lindonéia” é um retrato da vida de uma empregada doméstica, mostrando seu cotidiano e suas lutas diárias. A música é cantada por Caetano Veloso, com um arranjo que mistura elementos de samba, bossa nova e música experimental.

A letra de “Lindonéia” também traz críticas sociais, mostrando a desigualdade e o preconceito existentes na sociedade brasileira da época. A música evidencia a importância da figura da empregada doméstica para a estruturação da vida urbana e familiar, ao mesmo tempo em que destaca as dificuldades enfrentadas por essas trabalhadoras, como a falta de direitos trabalhistas e a exclusão social.

Além disso, a música é considerada um exemplo do movimento tropicalista, que buscava misturar diferentes influências musicais e culturais para criar uma nova forma de expressão artística no Brasil. “Lindonéia” mistura elementos de ritmos tradicionais brasileiros com a experimentação sonora característica da Tropicália, criando uma sonoridade única e inovadora. A música é um exemplo do compromisso dos tropicalistas com a renovação estética e política da cultura brasileira.

13- Enquanto seu lobo não vem (Caetano Veloso )

Vamos passear na floresta escondida, meu amor
Vamos passear na avenida
Vamos passear nas veredas, no alto, meu amor
Há uma cordilheira sob o asfalto (os clarins da banda militar)A Estação Primeira de Mangueira (os clarins da banda militar)
Passa em ruas largas (os clarins da banda militar)
Passa por debaixo da Avenida (os clarins da banda militar)
Presidente Vargas (os clarins da banda militar)Presidente Vargas (os clarins da banda militar)
Presidente Vargas (os clarins da banda militar)
Presidente Vargas (os clarins da banda militar)

“Enquanto Seu Lobo Não Vem” é uma música composta por Caetano Veloso em 1969. A letra da canção pode ser interpretada como uma metáfora da ditadura militar que governava o Brasil na época em que a música foi lançada. Nessa interpretação, o “lobo” representa o regime autoritário e opressor, que mantinha a população sob constante ameaça e censura.

Os versos falam sobre a espera pelo lobo, que representa o medo da repressão e da violência iminente. O eu-lírico, que aguarda ansiosamente pelo retorno do amado, pode ser visto como uma representação do povo brasileiro, que ansiava pela volta da democracia e da liberdade.

O uso da metáfora do lobo na música é interessante, pois a imagem do lobo é frequentemente associada à ideia de perigo e medo. Na interpretação política, o lobo representa o regime ditatorial que instaurou um clima de medo e opressão no país.

A música também pode ser vista como um apelo à resistência e à luta contra o regime militar, mostrando a necessidade de aguardar o momento certo para enfrentar o lobo e recuperar a liberdade.

14- Mamãe, Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto)

Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu fui embora
Mamãe, mamãe não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe não chore
A vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui
Mamãe, mamãe não chore
Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
Veja as contas do mercado, pague as prestações
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
Seja feliz, seja feliz

Na letra da música (há quem diga que o enredo seria inspirada na relação difícil entre o co-autor Torquato Neto e sua mãe Salomé), o filho fala para a mãe de forma irônica e mordaz, tentando tranquilizá-la sobre sua decisão de ir embora e buscar sua própria felicidade. Ele pede para que ela não chore, ironizando que a vida é assim mesmo, e afirma que nunca mais vai voltar para o lugar de onde veio, como se estivesse dando um recado direto à mãe conservadora.

O filho usa a expressão “Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos” de forma sarcástica, mostrando que está cansado de viver de acordo com as expectativas dela. Ele quer ser feliz e viver do jeito que acredita ser o melhor para si, e deixa claro que já fez suas escolhas, pedindo para que a mãe também seja feliz.

Com suas palavras afiadas, o filho sugere que a mãe leia livros e que continue a cuidar das coisas do lar, enquanto ele vive sua vida de forma livre e feliz. Ele mostra sua rebeldia e vontade de seguir seus próprios caminhos, afirmando que tem um beijo preso na garganta e um jeito de quem não se espanta, deixando claro que não quer se submeter às regras da sociedade conservadora.

A letra da música pode ser interpretada como uma carta de um filho que busca se libertar das amarras conservadoras da mãe e da sociedade, e que deseja seguir seus próprios sonhos e desejos, mesmo que isso signifique desafiar as convenções e expectativas conservadoras do status quo da época da ditadura militar no Brasil.

15- Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso)

Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá

Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá

O sol é seu
O som é meu
Quero morrer
Quero morrer já

O som é seu
O sol é meu
Quero viver
Quero viver lá

Nem quero saber se o diabo
Nasceu, foi na Bahia
Foi na Bahia
O trio elétrico
O sol rompeu
No meio-dia
No meio-dia

A gravação de “Atrás do Trio Elétrico” ocorreu em 1969, durante um período de grande efervescência política e cultural no Brasil. No mesmo ano, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos pelo regime militar, que via a Tropicália como uma ameaça à ordem estabelecida. A música foi composta por Caetano como uma forma de celebrar a alegria e a liberdade do Carnaval, mas também como uma forma de resistência contra a opressão e a censura do regime.

Apesar de ter sido gravada antes do Carnaval, “Atrás do Trio Elétrico” se tornou um grande sucesso durante as festividades, sendo tocada em diversos blocos e trios elétricos. Porém, Caetano e Gil não puderam acompanhar o sucesso da música, pois ainda estavam presos. Caetano só foi libertado na Quarta-Feira de Cinzas, quando as festividades já haviam terminado.

Essa história mostra como a música e a cultura em geral foram usadas como formas de resistência durante o período da ditadura militar no Brasil. “Atrás do Trio Elétrico” se tornou um hino da liberdade e da alegria do Carnaval, mas também simbolizou a resistência cultural e política da Tropicália contra a repressão do regime militar.

Tropicalia em Resumo:

A Tropicália, também conhecida como Tropicalismo, foi um movimento artístico e cultural brasileiro que surgiu no final dos anos 1960. Embora tenha tido impacto em diversas áreas artísticas, como teatro, cinema e literatura, a Tropicália é mais conhecida por sua influência na música popular brasileira.

O movimento foi liderado por músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat. A Tropicália buscou uma síntese entre a tradição e a modernidade, combinando elementos da música popular brasileira (MPB), como o samba e a bossa nova, com a música pop internacional, especialmente o rock e o psicodelismo.

A Tropicália também foi uma resposta política ao regime militar que governava o Brasil na época. As letras das músicas, muitas vezes metafóricas e críticas, abordavam questões sociais e culturais, refletindo o descontentamento com a situação política do país. Isso levou à censura e até mesmo à prisão de alguns de seus membros, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que acabaram exilados na Europa.

O álbum “Tropicália: ou Panis et Circenses”, lançado em 1968, é frequentemente citado como o marco inicial do movimento. Algumas das músicas mais conhecidas da Tropicália incluem “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso, “Domingo no Parque” de Gilberto Gil e “Bat Macumba” de Os Mutantes.

Embora o movimento tenha durado apenas alguns anos, a Tropicália teve um impacto duradouro na música brasileira e na cultura popular. Muitos artistas que surgiram posteriormente foram influenciados por suas ideias e estética, e a Tropicália continua a ser celebrada como um dos momentos mais inovadores e influentes da história da música brasileira.